"Menino de Engenho" de José Lins do Rego.
Publicado em 1932, Menino de Engenho é a estréia em romance de José Lins do Rego e já traz os valores que o consagraram na Literatura Brasileira. Em resumo:
"1920, na Paraíba. Após a morte da mãe, o menino Carlinhos é enviado para o engenho Santa Rosa para ser criado pelo avô e pelos tios. Lá ele testemunha a chegada de um novo tempo, com o advento das modernas usinas de açúcar e as transformações econômicas e sociais pelas quais passa a produção canavieira, mudanças que irão afetar a vida de todos. Quando ele cresce e vai para o colégio, já não é mais o garoto ingênuo e inocente que chegou no engenho."
É perceptível a minha admiração pelo escritor José Lins do Rego, autor da segunda fase modernista no Brasil.
Em 2005, participei de um concurso de adaptação do livro "Menino de Engenho", onde o foco era narrar a história do menino Carlinhos no Rio de Janeiro atual, ressaltando toda a inconstância da cidade grande e suas problemáticas. Eis o desafio:
Fim da linha. Ao chegar ao Méier no estado do Rio de Janeiro, junto com o seu tio Juca, Carlinhos sentiu uma enorme fragilidade, pois sabia que aquele ‘’novo mundo'’ estava muito distante da realidade do Engenho. Carlinhos agora terá que aprender a conviver e a se comportar como os meninos da cidade, aprender as malícias e as inconstâncias da cidade grande.
Carlinhos agora se sente solitário, preso em um apartamento onde a única diversão é assistir da janela dos fundos a uma seqüência de exercícios físicos e disputas de natação elaborados por uma academia situada atrás de seu edifício. Neste constante tédio e solidão chega a Segunda-feira, seu primeiro dia de aula. Este é o dia em que o menino do Engenho irá se envolver e participar do dia a dia dos meninos da cidade. Em sala de aula, a professora apresenta toda a turma, aluno por aluno e quando chega a vez de Carlinhos ela pergunta:
— E você lindinho, qual o seu nome?
E ele responde:
— Carlinhos.
— Lindo nome. Carlinhos de quê?
— Ora, eu sou do Engenho de meu avô! Ele me mandou para cá para eu me acertar.
A sala de aula virou uma total balbúrdia. Os alunos acharam Carlinhos muito engraçado e começaram a curtir com ele. O menino do Engenho sentiu-se estranho e mais uma vez solitário. E a professora continuou:
— Quer dizer que você morava em um Engenho, que legal!
— Ele é da roça!
— É um matuto!
— Roceiro!
— Capiau! Exclamaram alguns alunos.
Neste momento todos estavam às gargalhadas e a professora, séria, olhando fixamente para Carlinhos lhe pediu desculpas pelas brincadeiras dos colegas. O menino assustado e muito magoado saiu da sala correndo e chorando.
— Vai tirar leitinho da vaca, vai? Interrogou um menino que se encontrava próximo à porta. Carlinhos voltou-se para ele e disse:
— Não, vou tirar leite da sua mãe! Todos, até a professora, ficaram a rir por algum tempo. Carlinhos se retirou batendo com toda a força a porta da sala de aula, assustando seus colegas. Assim, ele foi aprendendo a lidar com aquele novo ambiente.
Passados alguns meses, Carlinhos começava a entender a grande diferença daquela nova realidade com a realidade do campo, percebe o grande desafio traçado, pois a liberdade e a tranqüilidade constante do ‘’Paraíso'’ agora se transformaram em responsabilidade e dedicação, o menino lá do Engenho, hoje vive a verdade, a atualidade do Rio de Janeiro. Em um de seus dias de aula Carlinhos conhece Alexandre que coincidentemente mora próximo à sua casa e tem um grande sonho, tornar-se um respeitado oficial do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (BOPE), sonho que herdou do pai, um soldado do BOPE que foi esquartejado por traficantes numa favela do rio, este menino com forte personalidade dá asas à imaginação de Carlinhos que passa a se encantar com os feitos dos policiais brasileiros. Carlinhos agora com vinte e um anos e cinco de convivência com Alexandre perdeu toda sua identidade cultural e familiar que ainda guardava consigo no início de sua vivência na cidade grande. Menino muito namorador e decidido, Carlinhos vive hoje ainda no Méier, no mesmo apartamento dado pelo seu avô e desde os seus dezoito anos Carlinhos passou a viver lá sozinho, pois seu tio resolveu voltar às raízes. Com uma boa quantia de dinheiro herdada do avô já falecido, o ex-menino do Engenho montou um restaurante e aos vinte e um anos, empresário bem sucedido, não descartou a possibilidade de ser um oficial do exército imposta por seu amigo Alexandre que assim como ele ainda estuda, mas mora com os pais. Alexandre começa a invejar a independência de Carlinhos e tenta a qualquer custo estragar a sua felicidade. Carlinhos acreditando e confiando na amizade do amigo decide com a insistência do próprio dividir o apartamento com ele. Alexandre aos poucos toma posse dos bens de Carlinhos se aproveitando da falta de malícia do amigo e toma a frente de tudo, fazendo com que o mesmo assine documentos de transferência de propriedades dizendo serem documentos necessários para a permanência e funcionamento legal do restaurante. Carlinhos com muita confiança no ‘’amigo'’ assina tudo sem se preocupar em ler, Alexandre larga os estudos e passa a fazer o que bem entende com o apartamento, com o carro e com o restaurante causando a irritação de Carlinhos que o convida para uma conversa:
— Alexandre, o que está acontecendo com você? Assim não dá para continuarmos a nossa sociedade.
E responde em um tom muito irônico o amigo:
— Sociedade! Quem disse que eu sou o seu sócio?
—…não entendo.
— Vê se presta mais atenção ao assinar algum documento, mauricinho!
— Não acredito que você fez isso comigo! E a nossa amizade?
— Meu chapa, se liga! Tua vidinha certinha aquela lá do Engenho ficou para trás, aqui as pessoas querem crescer, tornar-se importantes mesmo sendo no ilegal, sacou? Agora já era, você perdeu e quer saber mais, já estou cansado de seus mimos. Você tem até amanhã para ralar daqui, tá ligado? Até amanhã…
Naquela noite Carlinhos sentiu-se um nada, a saudade de sua mãe, morta tragicamente, veio como uma explosão em sua memória e ficou a vagar sem rumo madrugada adentro, pensando em tudo o que acontecera até ali e se indagando sobre como uma pessoa pode cometer tal ato, como alguém pode ser tão falso e materialista ao ponto de preferir abandonar uma verdadeira amizade em troca de finanças. Carlinhos confuso e desorientado sentado no banco de uma praça adormece e logo é acordado a cacetetes por um policial que fazia ronda no local:
— Levanta vagabundo, vai trabalhar. Isso aqui não é lugar para bêbado e nem para mendigo. ‘’Bora'’, mete o pé. Vagabundo!
Carlinhos estava só, desamparado e ouviu claramente as palavras do policial. Resolveu ir para o prédio, dormiu na portaria e quando o sol ainda estava se pondo, levantou e foi para o apartamento que perdera, retirou do cofre as economias que lhe restavam e saiu à procura de emprego e casa para comprar, conseguiu um antigo e pequenino apartamento situado na rua ao lado de sua antiga moradia, começou a trabalhar como garçom no bairro do Lins, mas não deixou os estudos. Menino perdido, criado no Engenho, hoje homem formado sabe muito bem o que quer e batalha para conseguir. No final de seu último ano na escola, participou de uma prova para oficial do exército com trezentas vagas para três mil inscritos e vibrou ao pegar o resultado confirmando a sua aprovação. Carlinhos largou a pizzaria e tornou-se um conceituado oficial do exército, seguindo a carreira no Batalhão de Operações Especiais. Comprou um carro e um novo apartamento, mas as lembranças de sua antiga casa ainda lhe perturbavam a memória, teria que fazer alguma coisa. Carlinhos tornou-se um policial respeitado, queria consertar tudo o que achava errado e acabava, com gosto, de tudo o que fosse preciso. Em um dia de folga, caminhando pela orla de Itacuruçá, reencontra Maria Clara, sua namoradinha de infância, ela estava linda e juntos recordaram os tempos do Engenho, quase já esquecidos por Carlinhos e que revive graças às lembranças de Maria Clara que recorda os beijos e as fugidas para o rio naquele tempo em que tudo era motivo para felicidade. Carlinhos conta a ela a tristeza que ficou quando a viu partir e ficaram ali se interessando um pelo o outro até que se acertaram e começaram a namorar, Maria Clara com trinta e três anos, mesma idade de Carlinhos, leciona Língua Portuguesa e mora sozinha em um apartamento no centro de Niterói, com nove meses de namoro decidem morar juntos no apartamento de Carlinhos no Méier. Numa manhã de sábado houve um grande alvoroço no apartamento de Alexandre, os moradores do prédio diziam que ouviram o rapaz gritando socorro e pedindo para alguém que o perdoasse, mas não viram ninguém e o rapaz amanheceu morto aos pés da cama. Carlinhos já conformado com a perda de suas antigas posses, lamenta a morte do amigo traíra. Passado alguns meses, um oficial de justiça vai à casa de Carlinhos e entrega um documento comprovando e lhe repassando os seus bens usurpados. Carlinhos sem entender nada lê tudo e assina com grande satisfação, afinal, quem teria matado Alexandre? Quem teria recorrido em nome de Carlinhos? Este é um grande mistério na vida do rapaz, que acreditava muito na proteção de seu falecido avô José Paulino.
Carlinhos vendeu o apartamento onde ocorreu a tragédia com Alexandre e o carro que o mesmo utilizava e reinaugurou o restaurante. Comprou uma fazenda enorme em Petrópolis onde acabou se mudando de vez com a esposa Maria Clara e seus dois filhos Clarisse e José, em memória a sua mãe e ao seu avô. O pedido de Maria Clara, Carlinhos instalou na fazenda um Engenho de Cana de Açúcar. Ele Alugou o apartamento do Méier e abriu duas filiais do restaurante ‘’Delícias do Engenho'’ nos bairros de Madureira e Campo Grande no Rio de Janeiro.
— E você lindinho, qual o seu nome?
E ele responde:
— Carlinhos.
— Lindo nome. Carlinhos de quê?
— Ora, eu sou do Engenho de meu avô! Ele me mandou para cá para eu me acertar.
A sala de aula virou uma total balbúrdia. Os alunos acharam Carlinhos muito engraçado e começaram a curtir com ele. O menino do Engenho sentiu-se estranho e mais uma vez solitário. E a professora continuou:
— Quer dizer que você morava em um Engenho, que legal!
— Ele é da roça!
— É um matuto!
— Roceiro!
— Capiau! Exclamaram alguns alunos.
Neste momento todos estavam às gargalhadas e a professora, séria, olhando fixamente para Carlinhos lhe pediu desculpas pelas brincadeiras dos colegas. O menino assustado e muito magoado saiu da sala correndo e chorando.
— Vai tirar leitinho da vaca, vai? Interrogou um menino que se encontrava próximo à porta. Carlinhos voltou-se para ele e disse:
— Não, vou tirar leite da sua mãe! Todos, até a professora, ficaram a rir por algum tempo. Carlinhos se retirou batendo com toda a força a porta da sala de aula, assustando seus colegas. Assim, ele foi aprendendo a lidar com aquele novo ambiente.
Passados alguns meses, Carlinhos começava a entender a grande diferença daquela nova realidade com a realidade do campo, percebe o grande desafio traçado, pois a liberdade e a tranqüilidade constante do ‘’Paraíso'’ agora se transformaram em responsabilidade e dedicação, o menino lá do Engenho, hoje vive a verdade, a atualidade do Rio de Janeiro. Em um de seus dias de aula Carlinhos conhece Alexandre que coincidentemente mora próximo à sua casa e tem um grande sonho, tornar-se um respeitado oficial do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (BOPE), sonho que herdou do pai, um soldado do BOPE que foi esquartejado por traficantes numa favela do rio, este menino com forte personalidade dá asas à imaginação de Carlinhos que passa a se encantar com os feitos dos policiais brasileiros. Carlinhos agora com vinte e um anos e cinco de convivência com Alexandre perdeu toda sua identidade cultural e familiar que ainda guardava consigo no início de sua vivência na cidade grande. Menino muito namorador e decidido, Carlinhos vive hoje ainda no Méier, no mesmo apartamento dado pelo seu avô e desde os seus dezoito anos Carlinhos passou a viver lá sozinho, pois seu tio resolveu voltar às raízes. Com uma boa quantia de dinheiro herdada do avô já falecido, o ex-menino do Engenho montou um restaurante e aos vinte e um anos, empresário bem sucedido, não descartou a possibilidade de ser um oficial do exército imposta por seu amigo Alexandre que assim como ele ainda estuda, mas mora com os pais. Alexandre começa a invejar a independência de Carlinhos e tenta a qualquer custo estragar a sua felicidade. Carlinhos acreditando e confiando na amizade do amigo decide com a insistência do próprio dividir o apartamento com ele. Alexandre aos poucos toma posse dos bens de Carlinhos se aproveitando da falta de malícia do amigo e toma a frente de tudo, fazendo com que o mesmo assine documentos de transferência de propriedades dizendo serem documentos necessários para a permanência e funcionamento legal do restaurante. Carlinhos com muita confiança no ‘’amigo'’ assina tudo sem se preocupar em ler, Alexandre larga os estudos e passa a fazer o que bem entende com o apartamento, com o carro e com o restaurante causando a irritação de Carlinhos que o convida para uma conversa:
— Alexandre, o que está acontecendo com você? Assim não dá para continuarmos a nossa sociedade.
E responde em um tom muito irônico o amigo:
— Sociedade! Quem disse que eu sou o seu sócio?
—…não entendo.
— Vê se presta mais atenção ao assinar algum documento, mauricinho!
— Não acredito que você fez isso comigo! E a nossa amizade?
— Meu chapa, se liga! Tua vidinha certinha aquela lá do Engenho ficou para trás, aqui as pessoas querem crescer, tornar-se importantes mesmo sendo no ilegal, sacou? Agora já era, você perdeu e quer saber mais, já estou cansado de seus mimos. Você tem até amanhã para ralar daqui, tá ligado? Até amanhã…
Naquela noite Carlinhos sentiu-se um nada, a saudade de sua mãe, morta tragicamente, veio como uma explosão em sua memória e ficou a vagar sem rumo madrugada adentro, pensando em tudo o que acontecera até ali e se indagando sobre como uma pessoa pode cometer tal ato, como alguém pode ser tão falso e materialista ao ponto de preferir abandonar uma verdadeira amizade em troca de finanças. Carlinhos confuso e desorientado sentado no banco de uma praça adormece e logo é acordado a cacetetes por um policial que fazia ronda no local:
— Levanta vagabundo, vai trabalhar. Isso aqui não é lugar para bêbado e nem para mendigo. ‘’Bora'’, mete o pé. Vagabundo!
Carlinhos estava só, desamparado e ouviu claramente as palavras do policial. Resolveu ir para o prédio, dormiu na portaria e quando o sol ainda estava se pondo, levantou e foi para o apartamento que perdera, retirou do cofre as economias que lhe restavam e saiu à procura de emprego e casa para comprar, conseguiu um antigo e pequenino apartamento situado na rua ao lado de sua antiga moradia, começou a trabalhar como garçom no bairro do Lins, mas não deixou os estudos. Menino perdido, criado no Engenho, hoje homem formado sabe muito bem o que quer e batalha para conseguir. No final de seu último ano na escola, participou de uma prova para oficial do exército com trezentas vagas para três mil inscritos e vibrou ao pegar o resultado confirmando a sua aprovação. Carlinhos largou a pizzaria e tornou-se um conceituado oficial do exército, seguindo a carreira no Batalhão de Operações Especiais. Comprou um carro e um novo apartamento, mas as lembranças de sua antiga casa ainda lhe perturbavam a memória, teria que fazer alguma coisa. Carlinhos tornou-se um policial respeitado, queria consertar tudo o que achava errado e acabava, com gosto, de tudo o que fosse preciso. Em um dia de folga, caminhando pela orla de Itacuruçá, reencontra Maria Clara, sua namoradinha de infância, ela estava linda e juntos recordaram os tempos do Engenho, quase já esquecidos por Carlinhos e que revive graças às lembranças de Maria Clara que recorda os beijos e as fugidas para o rio naquele tempo em que tudo era motivo para felicidade. Carlinhos conta a ela a tristeza que ficou quando a viu partir e ficaram ali se interessando um pelo o outro até que se acertaram e começaram a namorar, Maria Clara com trinta e três anos, mesma idade de Carlinhos, leciona Língua Portuguesa e mora sozinha em um apartamento no centro de Niterói, com nove meses de namoro decidem morar juntos no apartamento de Carlinhos no Méier. Numa manhã de sábado houve um grande alvoroço no apartamento de Alexandre, os moradores do prédio diziam que ouviram o rapaz gritando socorro e pedindo para alguém que o perdoasse, mas não viram ninguém e o rapaz amanheceu morto aos pés da cama. Carlinhos já conformado com a perda de suas antigas posses, lamenta a morte do amigo traíra. Passado alguns meses, um oficial de justiça vai à casa de Carlinhos e entrega um documento comprovando e lhe repassando os seus bens usurpados. Carlinhos sem entender nada lê tudo e assina com grande satisfação, afinal, quem teria matado Alexandre? Quem teria recorrido em nome de Carlinhos? Este é um grande mistério na vida do rapaz, que acreditava muito na proteção de seu falecido avô José Paulino.
Carlinhos vendeu o apartamento onde ocorreu a tragédia com Alexandre e o carro que o mesmo utilizava e reinaugurou o restaurante. Comprou uma fazenda enorme em Petrópolis onde acabou se mudando de vez com a esposa Maria Clara e seus dois filhos Clarisse e José, em memória a sua mãe e ao seu avô. O pedido de Maria Clara, Carlinhos instalou na fazenda um Engenho de Cana de Açúcar. Ele Alugou o apartamento do Méier e abriu duas filiais do restaurante ‘’Delícias do Engenho'’ nos bairros de Madureira e Campo Grande no Rio de Janeiro.
Dayana Fazolato Silva
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